O relatório mensal do Conselho Fiscal sobre as contas da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) encaminhado ontem (27) ao Conselho Deliberativo da histórica instituição deixa claro que a diretoria não tem capacidade administrativas para planejar, organizar, dirigir e controlar as finanças da Casa do Jornalista.
Para manter nossa patriótica e centenária organização no rumo certo, é necessário um grande universo de ações que essa diretoria deve tomar, mas isso não está ocorrendo. Os funcionários são partícipes dessas dificuldades e estão sacrificados. Isto acontece porque a administração da ABI não tem sido tratada de forma profissional como podemos concluir após leitura do excelente relatório do Conselho Fiscal – membros: Osvaldo Maneschy, José Luís Laranjo, Cleyber Fintelman, Ubirajara Roulien, Luiz Carlos Chester e Wilson França.
Para que nossa ABI tenha força como nos anos de ouro – quando participou e liderou grandes campanhas como a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados; a campanha “O Petróleo é Nosso”, que gerou a Lei 2.004 e a criação da Petrobrás; a luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita; a campanha pelas Diretas Já; a luta pelo impeachment de Collor – é necessário segurança financeira e estabilidade administrativa.
Sem estabilidade administrativa e segurança financeira a centenária Associação Brasileira de Imprensa (ABI) – fundada para abrigar e incorpora lutas cidadãs em defesa da liberdade de expressão, da soberania, dos direitos humanos e da democracia – corre o risco de desaparecer. Cadê os estudantes de Comunicação? Cadê os jornalistas mais jovens? Cadê a renovação? Cadê as ações necessárias? Com a palavra a diretoria.
Leia a íntegra do relatório da Comissão Fiscal:
Prezado Sr.
Fichel Davit Chargel
M.D. presidente do Conselho Deliberativo
Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
Atendendo a convocação de V.S. para a reunião desta segunda-feira, dia 27/7/2020, item 04 da pauta do Conselho Deliberativo, encaminho relatório solicitado ao Conselho Fiscal sobre as contas da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), agradecendo antecipadamente a colaboração recebida não só do diretor financeiro, Marcus Miranda, como também da funcionária Renata Natal, da Tesouraria. Após a análise das receitas e despesas da ABI nos últimos quatro meses (abril, maio, junho e julho até o dia 24/7) e levando-se em conta o balanço de 2019 e os balancetes mensais, consideramos alarmantes as informações da Tesouraria. Elas mostram que a ABI está gravemente enferma – mas não em estado terminal.
O que estava difícil em junho de 2019, piorou segundo as planilhas da Tesouraria que anexamos a este relatório para conhecimento do Conselho Deliberativo. Aproveitamos para reiterar também que o Conselho Fiscal, como informamos no relatório passado, precisará do prazo de dois meses após o fim da pandemia para emitir seu parecer final sobre as contas, mais detalhado, a ser apresentado à Assembleia Geral, como determina o Estatuto em vigor.
A situação das finanças da ABI é grave e decisões urgentes e imediatas precisam ser tomadas porque consideramos que está em jogo a própria sobrevivência da entidade, de 112 anos de vida, que acumulou despesas não pagas da ordem de mais de R$ 200 mil nos meses de abril, maio, junho e julho (até o dia 24), já considerando o empréstimo junto ao Banco Santander para pagamento de parte dos salários.
Importante frisar que entre as contas em atraso está ainda parte do 13° salário dos funcionários, do ano passado, uma situação difícil que foi agravada no atual mês de julho com a falta de recursos financeiros para pagar o salário integral do mês de junho último, e ficará ainda pior a partir do mês de julho, quando se esgotarão os recursos emergenciais obtidos através de empréstimo junto ao Banco Santander, disponibilizados para o pagamento de três meses da folha salarial. Há, entretanto, a promessa de que esta linha especial seja ampliada para pagamento de mais dois meses de salários, mas a questão ainda depende de providências em Brasília.
Dentro desse cenário, inclusive, por conta das dificuldades que a casa está atravessando, sugerimos que todos os funcionários da ABI sejam informados, em reunião presencial no auditório do sexto ou do nono andar, das dificuldades atuais da ABI e a razão do atraso do pagamento deles. Temos funcionários com décadas de dedicação à ABI e como trabalhadores que são – merecem nosso absoluto respeito
Para poder embasar melhor esse relatório, no último dia 22/7 um integrante do Conselho Fiscal esteve na sede da ABI, ainda fechada na sua administração (7º andar) por causa da pandemia, e constatou que o ‘Café Literato’, responsável pelo maior de todos os aluguéis, já está reaberto – como também a papelaria e o salão de barbeiro que funcionam no térreo. Constatou ainda, informado pelos funcionários da portaria e do elevador, que as atividades do escritório de advocacia do 8º andar foram retomadas, consultórios do 6º andar reabriram e que o curso que aluga o 2º andar está sem aulas, mas já aceita inscrição de alunos.
Sinais esses de que apesar das dificuldades, aos poucos os inquilinos da ABI estão retomando as suas atividades – o que deve facilitar também o reinício do pagamento integral dos aluguéis, principal fonte de receita da ABI, que tem na folha salarial a sua maior despesa, da ordem de 65 mil reais/mês. Em abril deste ano, com o isolamento social provocado pela pandemia e fechamento total do prédio, a ABI arrecadou apenas cerca de R$ 70 mil – somando a mensalidade dos sócios, os aluguéis dos inquilinos e do espaço referente à antena de telefonia da OI.
Dentro desse cenário de emergência de saúde, as receitas caíram ainda mais nos meses de maio e junho, especialmente os valores recebidos referentes a aluguéis – discutidos diretamente com a ABI; pagos com novos valores, negociados. É necessário que sejam identificados os critérios dos acordos e que a situação deles seja normalizada, dentro do possível, nesse quadro tão instável.
Mesmo com esse quadro muito preocupante, há saídas e a principal delas é recorrer à sociedade para arrecadar contribuições para a ABI. Segundo fomos informados pelo diretor Marcus Miranda isto já está sendo planejado e deve começar agora no início de agosto com uma campanha que tem por meta inicial arrecadar R$ 300 mil em contribuições financeiras para fechar as contas da ABI deste ano, segundo o seu planejamento.
Em relação à campanha de arrecadação, o Conselho Fiscal lembra que é de suma importância que o Departamento Jurídico da ABI veja como alinhá-la da forma mais correta e transparente para evitar possíveis encaminhamentos externos de desconfiança e legislação, bem como fiquem claros os objetivos e, mais ainda, que seja destacado que as contribuições serão totalmente voluntárias e sem qualquer tipo de contrapartida, para que se preserve a independência da nossa instituição em todos os momentos em relação aos doadores.
Importante registrar as contribuições de amigos e sócios da ABI para a campanha de solidariedade à ABI através das mensagens a serem veiculadas pelas redes sociais e veículos de comunicação. Como a do sócio Ricardo Carvalho, de São Paulo, que dirigiu por iniciativa própria criativo vídeo pedindo ajuda para a ABI; e a peça para mídia impressa produzida pelo publicitário Lula Vieira para ser veiculada – de forma solidária – nas páginas de grandes veículos de comunicação parceiros da ABI.
Finalizando o relatório e tratando da reforma do Estatuto da entidade, outro item da pauta desta reunião do Conselho Deliberativo, a título de contribuição para o debate, encaminhamos a recomendação de que sejam mantidos os artigos do atual Estatuto da ABI que determina que as decisões do Conselho Fiscal sejam tomadas por maioria de quatro de seus sete integrantes, para que não seja possível outra interpretação; como também a eleição de seu presidente, logo na primeira reunião após a eleição, pelos sócios, dos integrantes do Conselho Fiscal. Outra sugestão, até por conta da perda do conselheiro Jarbas Domingos por causa da Covid-19, é que sejam também eleitos suplentes para a continuidade do efetivo funcionamento do Conselho Fiscal.
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2020.
Osvaldo Maneschy
José Luís Laranjo
Cleyber Fintelman
Ubirajara Roulien
Luiz Carlos Chester
Wilson França
DANIEL MAZOLA é Jornalista profissional (MTb 23.957/RJ), Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional, Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil. Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical. Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio). Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Conselheiro Efetivo da ABI (2004 a 2017). Foi Assessor de Imprensa da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) e do Sindicato dos Frentistas do Rio de Janeiro (Sinpospetro-RJ). Vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/13), editor do jornal FAFERJ (Federação das Associações de Favelas do Estado do RJ), editor do jornal do SINTUFF (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense-UFF), editor do jornal Folha do Centro (RJ), editor do jornal Ouvidor Datasul (gestão empresarial e tecnologia da informação), subeditor de política do jornal O POVO, repórter do jornal Brasil de Fato, radialista e produtor na Rádio Bandeirantes AM1360 (RJ).