domingo, 3 de setembro de 2017

TRAIÇÃO DE PRESIDENTE É MARCA ATUAL EM UM PAÍS E EM ENTIDADE COM PROTAGONISMO NA HISTÓRIA BRASILEIRA

MÁRIO A. JAKOBSKIND E ANDRÉ MOREAU -


O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Domingos Meirelles aprendeu bem as técnicas de dissimulação junto a "grande imprensa". Em declaração à colunista do jornal O Estado de S.Paulo, Andreza Matais, o goebbeliano Meirelles declarou que "a diretoria da entidade foi surpreendida ao saber que havia alugado auditório da sua sede para evento que teria como estrela a ex-presidente Dilma Rousseff e com o tema um ano do golpe". Ele chegou a dizer, para embasar a mentira, que se sentia "surpreso" e "perplexo" diante do que aconteceu no auditório da ABI. Ocorre que todo evento programado na ABI deve ser autorizado pelo presidente.

Na verdade, a ABI, através do seu site, reconheceu o impeachment, sem mérito, como legal e o Sr. Meirelles deve ter ficado constrangido pelo fato de o auditório Oscar Guanabarino, no 9º andar ter repetido eventos históricos dos tempos em que a entidade tinha grande protagonismo na história brasileira, ou seja, exatamente ao contrário dos dias de hoje na gestão da atual diretoria, que na prática fez a ABI andar para trás, repetindo os tempos que se seguiram ao golpe empresarial militar de 1964, quando na gestão do então presidente Celso Kelly, o presidente da ABI e a diretoria também apoiaram vergonhosamente a quebra da ordem constitucional. Mas, tempos depois, com outras diretorias passou a se opor ao arbítrio, tendo sido até vítima de uma ação extremista que resultou na explosão de uma bomba no sétimo andar da entidade, que provocou grandes prejuízos.

A dissimulada demonstração de "surpresa" e perplexidade do goebbeliano Meirelles foi uma forma de dar um recado de subserviência ao mais recente governo golpista, exatamente o de Michel Temer, que Meirelles apoia desde o início quando da confirmação da votação do Senado e até antes quando do posicionamento da Câmara dos Deputados no ano passado. Agora, afirmar sem nenhuma vergonha ou receio de ser questionado pelos seus associados é também um atentado à inteligência dos que tem conhecimento do que acontecendo no país e nos bastidores da ABI, é como tentar tapar o sol com uma peneira.

E é muito fácil desmontar a mentira desse que se considera o dono da ABI, figura subserviente ao regime ditatorial, que desonra os jornalistas, chamada Domingos Meireles, que, segundo denúncias, chega ao ponto de escrever cartas utilizando o chancela da ABI para o presidente usurpador Michel Temer fazendo pedidos para nomeações até de ministros. Mas para os leitores que porventura eventualmente acreditem que a declaração de Domingos Meireles em O Estado de S. Paulo foi verdadeira e não uma forma encontrada para evitar o desgaste junto ao governo golpista que ele apoia, lá vão outros fatos para comprovar que a diretoria sabia perfeitamente o motivo pelo qual a assessoria do Deputado Wadih Damous alugou o auditório.

Primeiro, o auditório é pago para a realização de eventos das mais diversas naturezas, desde acontecimentos políticos, sindicais dentre outros. Eis então outra evidência: os funcionários da ABI, que por sinal ainda não receberam a totalidade do décimo terceiro salário de 2016, foram dispensados do trabalho cerca de duas horas antes do início da atividade no auditório, exatamente sob a justificativa de que haveria uma grande movimentação com o evento exatamente em função da presença da Presidenta Constitucional Dilma Rousseff.

Se foram dispensados, então a diretoria sabia com antecedência que Dilma Rousseff estaria presente ao evento político e atrairia um grande número de pessoas. Não se deve deixar de mencionar também que a participação da Presidenta tinha sido anunciada com antecedência nas redes sociais e por isso dificilmente a diretoria da ABI e o presidente Domingos Meireles não saberiam.

O atual diretor cultural da ABI, Jesus Chediak nos informou pessoalmente que ele mesmo autorizara a cessão do auditório. A declaração foi feita por Chediak com o testemunho de Luis Carlos Souza Moreira, militar da Marinha cassado pela ditadura de 1964, que assistia ao meu lado* o evento no auditório Oscar Guanabarino com a presença da Presidenta Constitucional Dilma Rousseff. Sendo, como o próprio Chediak informou, o diretor que autorizou a realização do ato, tendo ele demonstrado até satisfação pelo auditório repleto, como a diretoria desconhecia o teor do evento de caráter político? A mentira repetida por Domingos Meirelles tem pernas muito curtas e só engana mesmo leitores incautos.

Mas quem acompanha os acontecimentos na ABI a partir da ascensão da atual diretoria presidida por Domingos Meirelles não chega a se surpreender com o procedimento que pode ser considerado também covarde. Na presidência de Maurício Azêdo, Meirelles despontou como um carreirista que tinha como objetivo presidir a entidade, custasse o que custasse, não para fortalecê-la, mas sim servir aos seus próprios interesses pessoais, como se revela nos dias atuais. Prova concreta disso é que já utilizou o site da ABI para pedir a sua recontratação na TV Record.

O procedimento de Meirelles na gestão de Azêdo ficou tão claro que levou o então presidente da ABI em várias ocasiões a criticar o procedimento de Meirelles, que na verdade deve muito do seu sucesso profissional ao próprio Azêdo. A traição de Domingos Meirelles provocou grande desgaste psicológico em Maurício Azêdo e isso pode ter contribuído para o agravamento da saúde do então presidente da ABI, o que resultou em sua morte. Há testemunhas entre os familiares, inclusive a viúva Marilka Azêdo que confirmam o que está sendo dito aqui e é do conhecimento dos que acompanharam até agressões verbais contra o então presidente em reuniões do Conselho Deliberativo da entidade.

E para confirmação do caráter de Domingos Meirelles, com suas jogadas programadas, na base de mentiras repetidas e meias verdades, seguindo o roteiro da mídia comercial conservadora e até bajulando integrantes das diretorias de entidades patronais como a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) acabou iludindo alguns associados incautos e se elegeu presidente da ABI, impedindo, por exemplo, que outra chapa, a Villa-Lobos, encabeçada pelo consagrado jornalista José Louzeiro disputasse a eleição.

Podem alguns leitores achar que essas denúncias são questões internas da ABI, mas diante do panorama atual que tomou conta da entidade, que deixou de ter expressão nacional e está completamente apagada em um momento em que o país atravessa talvez a sua pior crise política, econômica e social, é importante tornar público tais acontecimentos.

No Brasil, por sinal, a traição tem sido uma marca na história, não só na ABI com o comportamento aético de Domingos Meirelles, como a nível do Executivo com o golpe parlamentar, midiático e judicial que levou Michel Temer a ocupar indevidamente o Palácio do Planalto. Ou alguém ainda tem dúvidas que Michel Temer é também um traidor? Escolhido como vice-presidente conspirou apresentando a sua "ponte para o futuro", que na verdade é uma ponte para o passado e ao se tornar presidente usurpador levou adiante um projeto absolutamente contrário ao escolhido por mais de 54 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff. Sem falar da colaboração do meliante ex-deputado Eduardo Cunha, hoje preso em Curitiba condenado por corrupção a 14 anos e meio. E vale então uma pergunta que não quer calar: em que país do mundo um vice que assumiu em lugar do titular eleito levou adiante outro programa, no caso brasileiro um projeto repudiado pelo menos quatro vezes seguidas nas urnas?

Para muitos que conhecem as histórias de Michel Temer e a de Domingos Meirelles, as traições são marcas que não podem ser deixadas de ser mencionadas para que se compreenda melhor o atual momento brasileiro e de uma entidade secular que já teve grande protagonismo histórico com presidentes como Barbosa Lima Sobrinho e Maurício Azêdo, entre outros, e hoje está reduzida a quintal da SIP - Sociedade Interamericana de Imprensa, para privilegiar um cidadão que se adonou da Casa dos Jornalistas em detrimento da categoria.

* Via e-mail / Mário Augusto Jakobskind, é Professor, Jornalista, Escritor e Coordenador de História do IDEA, Programa de TV., transmitido pela Unitevê, Canal Universitário de Niterói, Universidade Federal Fluminense (UFF).** André Moreau, é Coordenador-Geral da Pastoral IDEA, Professor, Jornalista, Diretor do IDEA, Canal Universitário de Niterói, Unitevê, UFF.

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