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O
"Dr. Barbosa" como presidente da ABI era respeitado, consultado e
requisitado para entrevistas (desde os "grandes" jornais, passando pelos
jornais de bairros e comunitários, até a mídia contra hegemônica) sobre
conjuntura nacional e internacional. Em 1987 para o Jornal do Brasil
chegou a falar que a "tradição brasileira era desprezar as leis e curvar-se aos mandatários do governo".
A
entrevista que segue (está disponível na internet) ocorreu no Rio de Janeiro, para a edição N.1
(18/06/1999) da extinta Revista Bundas, do Zilraldo. Recordar é viver, e
para quem não leu, vale conferir a Reserva Moral do País!
- BUNDAS - Em 68 o senhor teve um infarto por causa do
marechal Castelo Branco, que estava entregando nossas riquezas ao estrangeiro.
Como é que o senhor conseguiu sobreviver a Fernando Henrique, que está
entregando tudo de mão beijada?
- BARBOSA LIMA SOBRINHO - Sinceramente, não sei como
sobrevivi.
- O senhor votou nele?
- Não, votei no Lula. O pai de Fernando Henrique,
general Leônidas Cardoso, e o tio, general Felicíssimo Cardoso, eram
nacionalistas. Seu pai, eleito deputado federal com o apoio dos comunistas -
que estavam na ilegalidade - desempenhou seu mandato na Câmara inspirado em
ideais nacionalistas. O filho, atual presidente da República, não honrou o nome
do pai nem a tradição da família. Empregou o genro numa agência empenhada numa
política declaradamente anti-Petrobrás. Gostaria de contar uma história: em
1968 houve uma reunião da Campanha Nacional de Defesa da Amazônia na casa do
general Felicíssimo Cardoso, presidente da comissão, tio do atual presidente.
Participavam Henrique Miranda, hoje diretor da ABI, o general Carlos Hesse de
Melo, Os professores Alvércio Gomes e Orlando Valverde e a geógrafa Irene
Garrido. Todos foram testemunhas. Discutia-se a redação de um documento de
defesa da Amazônia e Henrique Miranda sugeriu que se mandasse o texto para
Fernando Henrique, em São Paulo, para que ele o divulgasse e colhesse mais
assinaturas. Aí o general Felicíssimo disse: "Pode mandar, Miranda, mas
este meu sobrinho não é de confiança". Concordo com a opinião dele.
- E BUNDAS, como um todo, também. Pena que o Itamar não
estivesse presente nessa reunião.
- Itamar cometeu um grande erro ao convidar Fernando
Henrique para ministro e mais ainda quando o indicou para a presidência da
República. Iludiu-se pensando que seria eleito na sucessão dele. Fernando
Henrique só não aceitou o convite de Collor para ser ministro do Exterior
porque foi dissuadido por Mário Covas. Quem acabou ficando no cargo foi Celso
Lafer, atual Ministro do Desenvolvimento.
- É mesmo. A gente nem se lembra de que ele existe,
porque não há desenvolvimento. O senhor acha que eles, Roberto Campos e Cia.,
ganharam? Nós, o povo, vamos perder a Petrobrás? O petróleo vai ser deles
depois de todas as porradas que levamos afirmando que é nosso?
- Sempre fui contra as teses de Roberto Campos. A
Petrobrás é um demonstração do que o Brasil pode fazer confiando em si mesmo.
Quanto a Fernando Henrique, parece que seu objetivo é destruí-la. Empregou o
genro numa agência empenhada em política declaradamente anti-Petrobrás. Estão
fazendo tudo que podem para acabar com ela.
- E o que é que se pode fazer?
- O jeito seria a opinião pública se manifestar através
de um plebiscito. Mas a gente olha o Congresso e o quadro é desanimador. Como
pode reagir contra o Governo que permitiu a reeleição do presidente da
República, modificando a Constituição, coisa que nem Getúlio Vargas ousou
fazer?
- E agora, pela segunda vez, Roberto Campos teve a
cara-de-pau de se candidatar à Academia e logo na vaga de quem? De Dias Gomes,
o anti-Roberto Campos. Foi o primeiro a se candidatar à vaga, antes mesmo do
enterro. Vamos torcer para que o senhor não tenha que aturá-lo no chá das
quintas. O Dias Gomes, lá do alto, deve estar torcendo também.
- Eles chamaram de xenofobia a defesa que fazemos do
Brasil. É xenofobia querer o progresso do país? O Brasil é o único país do
mundo em que ser nacionalista é considerado manifestação de debilidade mental.
- É no mínimo irônico que enquanto o Fernando Henrique
tem pressa em entregar nosso patrimônio, o ACM pisa no freio.
- A política internacional está se desenvolvendo em
favor dos EUA. Globalização e outras palavras que inventaram tem o intuito de
nos fazer dependentes dos EUA. Chegaram a um nível de poder jamais alcançado
por outra nação. É a defesa dos interesses deles através dessa globalização,
que é um regime em que só os mais fortes predominam.
- Como o senhor vê a perspectiva, depois de tantos anos
de luta, de sermos ajudados por Antônio Carlos Magalhães?
- Pode melhorar a imagem que se tinha dele.
- Para quem chegou aos 102 anos, a pergunta é
inevitável: qual é a receita?
- Praticar esportes. Joguei futebol, fiz barra, remei.
Fundamos até um time, o Corinthians de Praticar Olinda. Jogávamos na praia; a
gente só podia jogar na maré vazante. No remo, como só tinha 56 quilos, era
proeiro. Dava longas caminhadas. Uma vez eu e Múcio Leão fomos a pé de Olinda a
Goiana. Levamos 10 horas de marcha batida para fazer 60 quilômetros. Esse foi o
meu recorde. Mas fazia sempre caminhadas de uma légua. Até Os sessenta anos
jogava pelada com meus filhos e amigos no quintal de casa, até que levei um
tombo numa bola dividida e resolvi pendurar as chuteiras. Mas todos os dias
ainda dou minhas pedaladas na bicicleta ergométrica. O principal é muito
trabalho. O tal "ócio com dignidade" é prejudicial à saúde.
- E dieta?
- Nunca fiz. Gosto de um cuscuz, uma feijoada. De vez
em quando tomo uma caipirinha. Mas moderadamente.
- Quem foi a Tiazinha do seu tempo?
- Quem foi o quê?
- Essa moça que fica balançando a bunda na tevê.
- Na televisão só vejo o noticiário.
- Depois do Governo Fernando Henrique, quais foram os
mais entreguistas?
- É mais fácil dizer os que não foram entreguistas: O
de Arthur Bernardes e o de Getúlio Vargas.
- E o Itamar?
- Depois que levou a rasteira de Fernando Henrique,
ficou nacionalista.
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